Documentário relembra o movimento punk dos anos 90 na cidade de Londrina
CULTURA
Ramones, The Clash, Sex Pistols, Specials… Bandas que iniciaram o movimento punk na década de oitenta. E enquanto se ouvia o “rock’n roll on the radio” na Inglaterra e em alguns bairros norte americanos, os ‘brasucas’ punks trocavam entre si fitas cacetes para terem acesso aos sons que formavam a cena do gênero.
Em Londrina a coisa não era diferente. Personagens que marcaram os movimentos de resistência política e tencionaram o sistema é o que não falta. Mas o que muita gente não sabe é o quanto nossa cidade era bem politizada e servia de grande cenário para bandas que começavam a dar os primeiros passos dentro do Punk.
Prova disso, é o novo documentário que estreia neste mês de setembro sobre uma das bandas locais mais efervescestes da década de oitenta: a HARD MONEY. Formada inicialmente pelo baterista e sociólogo, Luis Eduardo, o Cientista, como ficou conhecido na época, a banda passou por algumas mudanças enquanto o movimento crescia e elevava-se o ideal do Punk Rock dentro de Londrina.
Além da atribuição natural do punk - como parte importante dos movimentos que compõem a contracultura - o estilo musical, a moda, a literatura, expressões linguísticas, símbolos e outros códigos de comunicação, é importante elencar que a principal característica deste movimento está atrelada a prática do bom, e velho, “DO IT YOURSELF!”.
Quem confirma a famosa frase, é o próprio Cientista: “Nesta época surgia o movimento punk, e a gente se organizava pra fazer as coisas. Porque as bandas queriam o lance pronto, e não era assim. A gente carregou caixa nas costas, ocupou lugares e puxamos as pessoas para o show. Entre erros e acertos, fomos aprendendo na prática. E isso é o que representa o punk”. Comenta o baterista.
“HARD MONEY, DO IT YOURSELF!”, não é só um documentário que retrata a banda no auge das composições e clássicas interpretações de Ramones, mas também pinta todo o cenário musical daquela época.
O DVD soma as trajetórias no velho DCE (O Diretório Central dos Estudantes da UEL) às desventuras para se conseguir uma fita cassete do Clash. Também as dificuldades de se comprar os instrumentos, construir uma cena de contracultura fomentada por fanzines independentes e shows com divulgação de cartazes colados na rua, regados a levada punk.
“O jeito do punk, com a coisa do ‘faça você mesmo’, era o que nos ajudava a impulsionar o movimento; e toda esta história jamais teria sido documentada pela imprensa normal. Foi uma produção de três anos separando material e um ano e meio editando e colhendo depoimentos”. Conta Luis Eduardo, uma das grandes figuras importantes do estilo de vida punk em Londrina, orgulhoso da produção do DVD.
Cientista lembra com saudade dos velhos tempos e comovido pela trajetória durante a produção do documentário, afirma “Todos os recursos da produção foram bancados por nós da banda! E só quem foi do movimento underground é que entende que apesar de não estarmos ‘ganhando nada’ com isso, estamos divulgando uma história importante para a cidade.” Conta, emocionado.
De forma extra-oficial, acabei assistindo ao documentário e confesso que fiquei impressionada com a quantidade de materiais, hoje raros, produzidos na época. A respeito disto, Cientista afirma: “Desde a minha entrada no punk, eu me preocupei com esta parte de documentação.
Acabei juntando muita coisa.” Durante as falas dos personagens que participam no DVD, é fácil reconhecer fotógrafo, ex-professor, jornalista... Gente que um dia já foi jovem e estava dentro de todo aquele espectro independente.
Apesar de não ter vivido intensamente este momento, o estudante de jornalismo e fanático pelo Punk, Gabriel Daher, recorda algumas memórias que viveu já nos anos dois mil: “Minha relação com a cena em Londrina começou com shows dos ‘Fisicopatas’ e outras bandas no DCE. Shows do Cherry Bomb, Babylon Shots e Electro Shock Combo no Potiguá. Um deles fazia cover de Ramones, a favorita do pessoal. Foi através destas bandas que comecei a ir atrás do que gostava de ouvir e de criar interesse pela cena.” Relata o futuro jornalista.
A exibição oficial do documentário “HARD MONEY, DO IT YOURSELF!” está marcado para o próximo domingo, dia onze de setembro, no Kino Clube. Clube de cinema do Instituto de Cinema e Vídeo, Kinoarte, localizado na Rua Paraíba, 331 – Centro. Vá, assista e confira o resultado você mesmo.
Foto: Renata Cabrera