29 de jun. de 2011

Carta do Alona na Escola à Ministra da Cultura

Londrina, 22 de junho de 2011.

Senhora Ministra da Cultura Ana Buarque de Hollanda,

Somos participantes do Projeto Alona na Escola, uma atividade que acontece todas as quartas, 14h, na Vila Cultural Alona, localizada em Londrina (PR). Aqui, a gente lê, debate sobre alguns assuntos e adaptamos os temas conversados na leitura para a música com ajuda de instrumentos musicais. Nosso projeto, não é só aula de literatura, pois também tem conversa, logo tem cultura!


Participantes do Alona na Escola
Para nós, cultura é uma forma de pensar, um modo de expressão e criação de uma pessoa ou um grupo social. Mas, já para a senhora, a cultura parece ser apenas um produto para ser vendido. Pois, no texto Circuito Nacional de Feiras do Livro (que pode ser lido aqui), você disse que nós iríamos "consumir" cultura apenas daqui há 10 anos. 

Não, ministra, a gente já é cultura, pois já produzimos isso com a professora de artes, com fotografia, com as poesias feitas no Alona na Escola, nas atividades diárias em casa. Até achamos que a senhora foi ousada, mas se equivocou. Se consumimos cultura, já fazemos isso desde pequenos, com televisão, música, cinema, quadrinhos, etc.

Nós jovens somos excluídos, não respeitados. Sempre ouvimos os mais velhos dizendo "Você não viveu nada do que a gente já viveu". Concordamos que a experiência pode ser boa para certos momentos, mas a vida também exige outras coisas. Sempre pode ter gente menor que nós que já passou por muita coisa. 


Em sua entrevista e outros eventos de cultura,  só tem gente "importante", sendo que todo o povo brasileiro, rico ou não, é quem vive cultura. E quem mais precisa dos livros e seu acesso, na maioria das vezes é o pobre, mas a gente sabe que se for na favela, a elite não vai. 

Tem poucos lugares e eventos de cultura em locais mais carentes. As pessoas mais necessitadas tem que ter acesso à cultura para ter algo para se distrair dos problemas e não entrar para o tráfico e crimes em geral. Já vimos muitas reportagens que falam que quem não tem emprego ou rouba é porque não teve oportunidade de acesso à educação e cultura.

Por isso, tudo que você vai fazer, não tem que ser só o que você gosta, ministra. Tem que agradar o povo para quem a senhora presta serviço. Então, gostaríamos que a senhora conhecesse o projeto Alona por pelo menos um dia para saber como nós pensamos e para saber o que é cultura de verdade para nós.

Atenciosamente, 

Vitor Ferreira (13 anos)
Bruno Santos Gandra (14 anos)
Eduardo Henrique Ferreira Junior (17 anos)

Sob acompanhamento de Tatiana Oliveira
Integrante do Coletivo Alona

2 comentários:

Mulher, demasiada mãe disse...

Excelente gente!
Precisamos nos movimentar para debatermos com nossos politicos, afinal de contas, nos os elegemos.

Ney Hugo disse...

Parabéns Vítor, Bruno, Eduardo e todos os demais participantes pela consciência, tão jovem e ja pensando a frente. Faço parte do Fora do Eixo, ja desenvolvi esse trabalho que a Tatiana desenvolveu com vocês em muitos Calangos na Escola (projeto do Festival Calango) em Cuiabá. Certamente voces estão no caminho certo, nunca deixem de desenvolver esse pensamento e essa reflexão crítica e cidadã. Quem faz um Brasil e um mundo melhor somos nós mesmos em nossas ações. Abração pra todos e vamo nessa!